Diversas fontes, conforme referências.
Joseph Smith sentia profundamente o desafio de produzir um relato confiável de sua vida e obras. Na conferência de abril de 1844 em Nauvoo, ele disse: “Vocês nunca conheceram meu coração. Homem algum conhece minha história—não posso contá-la. Jamais me empenharei em escrevê-la. Se eu não tivesse passado pelo que passei, eu mesmo não a teria conhecido. . . . Quando eu for chamado ao juízo e pesado na balança, vocês saberão quem eu sou.” [3] O Élder Heber C. Kimball, um dos colegas mais achegados do Profeta em Nauvoo, se lembrou de uma declaração semelhante: “Queira Deus, irmãos, que eu pudesse dizer-lhes quem sou! Queira Deus que eu pudesse dizer-lhes o que eu sei! Mas vocês o chamariam de blasfêmia e há homens neste palco que quereriam me tirar a vida.” [4] Mary Elizabeth Lightner, uma das esposas de Joseph Smith, também recordou que o Profeta havia mencionado isso em outra ocasião: “As pessoas mal sabem quem sou quando falam comigo e nunca me conhecerão até que me vejam pesado na balança do Reino de Deus. Daí saberão quem sou e ver-me-ão como sou. Não ouso dizer-lhes agora e elas permanecerão sem me conhecerem.” [5]
O significado destas declarações de Joseph Smith é sujeito a debate, porque é impossível entrevistar o Profeta e muito menos seus associados, aqueles que pudessem ter recebido mais informações sobre este assunto. É por isso que não podemos ter certeza do que ele quis dizer. Não obstante, há duas possíveis interpretações plausíveis e talvez as duas sejam corretas. Primeiro, o Profeta pode ter se referido a seu estado ou a suas atividades no mundo pré-mortal. A recordação de Heber C. Kimball possivelmente apoia tal ideia. Através do Profeta se revelou uma quantidade de informações acerca da vida pré-terrena, inclusive a identidade pré-mortal de vários profetas, tais como Adão, que é Miguel, e Noé, que foi indentificado como Gabriel. [6] Portanto, não seria surpreendente descobrir que Joseph Smith havia aprendido algo a respeito de seu próprio papel e estado pré-mortais. Uma de suas próprias declarações parece aludir a isso: “Todos os homens que têm o cargo de ministrar aos habitatnes do mundo foram ordenados àquele chamado no Grande Conselho do Céu antes do mundo existir. Suponho que fui ordenado a este mesmo ofício naquele grande conselho.” [7] Segundo, a declaração de Joseph Smith também parece referir-se a seu ministério mortal. Sua declaração na conferência de abril de 1844 destaca este ponto. Ele disse: “Se eu não tivesse passado pelo que passei, eu mesmo não teria acreditado.” Ele deve ter se surpreendido muitas vezes à medida que sua missão lhe era desvendada ao longo do tempo, “linha sobre linha,” em vez de recebê-la de uma vez só. Por exemplo, o jovem Joseph Smith não sabia em 1820 que sua vida findaria em junho de 1844 numa quinta-feira à tarde quente e abafada no cárcere de Carthage. Depois de sua Primeira Visão de 1820, o Profeta logo aprendeu que houve uma reação bastante negativa à sua afirmação de ter presenciado uma visão. Porém a oposição naquela época era local e sem o abuso físico que seguiu depois. Ele foi prevenido do custo pesado do discipulado quando Morôni o advertiu em 1823 que seu nome “seria considerado bom e mau entre todas as nações, parentescos e línguas” (História de Joseph Smith 1:33). Sua pequena influência cresceria de forma espantosa, chegando a atingir todo o planeta, mas mesmo assim ele ainda não havia nehuma noção nem dos ataques em que ele seria coberto de piche e penas, nem da destruição de seu patrimônio, nem das ameaças de violência física, nem dos assaltos contra ele, sua família e seus seguidores que estavam prestes a aparecer. Aparentemente, a única coisa que ele aprendeu naquela ocasião foi justamente que “seu nome seria considerado bom e mau entre todas as pessoas” (História de Joseph Smith 1:33). Como deve ter ficado perplexo este “obscuro menino,” coonfomre ele se referiu a si mesmo, (História de Joseph Smith 1:23), ao pensar que um dia ele seria conhecido no mundo inteiro!
Quase seis anos depois, em 1829, a visão de Joseph Smith expandiu no que diz respeito ao futuro quando o Senhor o mandou que permanecesse fiel, acrescentando: “Se fiseres isto, eis que te concedo vida eterna, mesmo que seja morto [assassinado]” (Doutrina e Convênios 5:22). A palavra chave desta revelação é “se,” não “quando.” No entatno, a possibilidade de martírio surgiu pela primeira vez e sem dúvida captou sua atenção, principalmente devido ao recente aumento de ameaças, tanto verbais como físicas. Logo após o estabelecimento da Igreja em 1830, o Profeta experimentou muitas vezes a prisão indevida, ameaças de morte, violência e a perda de bens por causa do evangelho, mas, apesar de tudo isso, sempre conseguiu voltar a salvo para sua famíla e amigos (por exemplo, veja Doutrina e Convênios 121:9). [8] Em 1842 as coisas mudaram. Ao orar numa das primeiras reuniões da Sociedade de Socorro, aparentemente ele soube pela primeira vez que sua missão terminaria com o seu martírio. [9] De 1842 até sua morte em junho de 1844, ele repetiu a profecia mais de cem vezes. [10]
A vida que Joseph Smith possivelmente esperava, ou até sonhava, quando era jovem em New Hampshire, Vermont e Nova York certamente não foi a vida que levou. Ele reconhecia o fato de que nem sempre sabia para onde a vida o levaria. Satanás opôs sua obra mesmo antes de Joseph saber o que seria: “Parece que o adversário sabia, nos primeiros anos de minha vida, que eu estava destinado a ser um perturbador e um importunador de seu reino; senão, por que os poderes das trevas se uniriam contra mim? Por que a oposição e a perseguição que se levantaram contra mim, quase em minha infância?” Ele refletiu no seu humilde estado: “Logo descobri, entretanto, que minha narração da história havia provocado muito preconceito contra mim entre os religiosos, tornando-se motivo de grande perseguição, a qual continuou a aumentar; e embora eu fosse um menino obscuro, de apenas quatorze para quinze anos de idade, e minha situação na vida fizesse de mim um menino sem importância no mundo, homens influentes preocupavam-se o bastante para incitar a opinião pública contra mim e provocar uma perseguição implacável. E isto se tornou ponto comum entre todas as seitas—todas se uniram para perseguir-me” (História de Joseph Smith 1:20, 22; ênfase acrescida). Nesta lembrança reveladora, o Profeta reconheceu que ficou total e plenamente surpreso com a atenção que recebera, dado que se encontrava em condições humildes e sua própria expectativa quanto ao seu futuro era a de ser “um menino sem importância no mundo.”
Joseph Smith continuou a aprender mais sobre sua missão profética ao traduzir o Livro de Mórmon. Só se pode imaginar o que ele sentiu ao descobrir as passagens que continham as profecias de José, o filho amado de Jacó: “E seu nome será igual ao meu e será chamado pelo nome de seu pai. E ele será semelhante a mim; porque aquilo que o Senhor fizer através de sua mão, pelo poder do Senhor, levará meu povo à salvação” (2 Néfi 3:15).
Entre as revelações e as visitações celestiais, Joseph Smith ficava a sós e possivelmente se sentia muito solitário. Não havia outro ser humano que pudesse compreendê-lo. O Élder Dallin H. Oaks observou com perspicácia: “Em matéria espiritual, Joseph Smith não tinha modelo [mortal] de quem ele pudesse aprender o papel de profeta e líder.” [11] Embora seu pai tivesse sonhos reveladores e sua mãe fosse uma cristã devota, mesmo assim ele não tinha um mentor mortal adequado. As declarações do Profeta de abril de 1844, proferidas no fim de sua vida, sugerem que por vezes ele se sentia isolado, sozinho. Até os familiares, tal como seu irmão William, e cetos amigos íntimos nem sempre o compreendiam. Alguns se seus colegas mais confiáveis, como Oliver Cowdery, Martin Harris, David Whitmer e William Law, abandonaram-no.
As pessoas que viviam neste momento de transição histórica, quando o mundo pré-moderno se substituia por um mundo total e irrevogavelmente influenciado pelo movimento iluminista, encontraram dificuldades em entender Joseph Smith devido a suas expectativas modernas. Não havia lugar nesta idade moderna e científica para profetas, revelações, visões e novas escrituras, nem nada que lhes permitisse colocar a vida dele num contexto que pudessem entender. James Hannay, ao escrever em 1851 um artigo para a revista Household Words [Palavras Caseiras] de Charles Dickens, criticou a mensagem Mórmon, dizendo que era “absurdo ter visões na idade da ferrovia.” [12]
Por seu padrão “moderno,” muitas pessoas dos países ocidentais acreditavam que Joseph Smith era estranho e que não cabia na sociedade. Não há dúvida que ele era uma pessoa fora do comum. Contudo, era mais que um homem incomum de nome comum. Há poucas pessoas cuja vida e obras foram tão previstas e tão antecipadas como as deste grande e tão esperado vidente. Os antigos profetas viram a vida e ministério de Joseph Smith “desde a fundação do mundo” como parte da “restituição de todas as coisas” (Atos 3:21). A partir do dias de Adão, os profetas, tais como Enoque, José, Moisés, Isaías, Ezequiel, Daniel, Malaquias e o Apóstolo Pedro, aguardavam esse ministério e o futuro estabelecimento do reino de Deus por meio de seus esforços. O Presidente Brigham Young observou: “Foi decretado nos conselhos da eternidade, muito antes de lançarem-se os alicérces da terra que ele seria o homem, nesta última dispensação do mundo, que levaria a palavra de Deus ao povo e receberia a plenitude das chaves e poder do sacerdócio do Filho de Deus. O Senhor o vigilava, bem como seu pai e o pai de seu pai. . . . Ele foi preordenado na eternidade para presidir esta última dispensação.” [13]
Pode ser que haja outros indícios sobre aquilo que se sabia nos tempos antigos acerca de Joseph Smith. Somente nos dias mais recentes é que os eruditos têm começado a desvendar a história complicada das expectativas messiânicas que existiam no antigo Israel. Embora hoje os judeus ortodoxos ainda acreditem na vinda de um Messias, seus antepassados, em diferentes épocas, aguardavam a vinda de servos ungidos especiais do Senhor: (1) o Messias ben Judas (às vezes chamado o Messias ben Davi), (2) o Messias ben Levi (às vezes identificado como o Messias ben Aarão, ou Messias o Sacerdote) e (3) o Messias ben José (também identificado como o Messias ben Efraim). É bem possível que Joseph Smith seja aquele terceiro servo ungido do Senhor destas tradições. As fontes antigas são confusas e até contraditórias, mas mesmo assim há ensinamentos interessantes integrados no conteúdo destas fontes sobre o Messias ben José: Ele apareceria antes da vinda do Messias final ou seja, o Messias (Jesus Cristo), ele restauraria o sacerdócio e a obra do templo, ele sofreria uma morte violenta às mãos de seus inimigos e seria ressuscitado pelo Messias que viria no fim dos tempos. [14]
Não foram só os profetas do Velho Testamento e os apóstolos do Novo Testamento que profetizaram a respeito de seu ministério. Asael Smith, o avô paterno de Joseph Smith, profetizou antes do nascimento de Joseph: “Ficou gravado na minha alma que um dos meus descendentes promulgaria uma obra para revolucionar o mundo da fé religiosa.” [15] Mais tarde, Asael afirmou que seu neto [Joseph] era “o próprio Profeta que, havia muito tempo, ele sabia que viria à sua família.” [16]
[3] The Words of Joseph Smith: The Contemporary Accounts of the Nauvoo Discourses of the Prophet Joseph [As Palavras de Joseph Smith: Relatos Contemporâneos do Discursos do Profeta Joseph Smith em Nauvoo], redação de Andrew F. Ehat e Lyndon W. Cook, eds. (Provo, UT: Centro de Estudos Religiosos, 1980), 355; ortografia e pontuação padronizadas.
[4] Orson F. Whitney, The Life of Heber C. Kimball [A Vida de Heber C. Kimball] (Salt Lake City: Deseret Book, 2001), 322–23.
[5] Mary Elizabeth Lightner, discurso na Universidade Brigham Young, 14 de abril de 1905, datilografado, L. Tom Perry Special Collections, Harold B. Lee Library, Universidade Brigham Young, Provo, Utah.
[6] Para a identidade de Adão, veja Doutrina e Covênios 27:11; 107:54; Words of Joseph Smith [Palavras de Joseph Smith], 8. Para a identidade de Noé, veja Words of Joseph Smith [Palavras de Joseph Smith], 8.
[7] Words of Joseph Smith [Palavras de Joseph Smith], 367; ortografia e pontuação padronizadas. Embora este ensinamento muitas vezes se aplique a cada homem e mulher, o contexto original se refere ao chamado dos cabeças de cada dispensação; veja o relato de Samuel A. Richards do discurso de 12 de maio de 1844: “No conselho geral e grande conselho do céu, todos a quem se concedeu uma dispensação foram designados e ordenados para tal chamado naquela ocasião” (Words of Joseph Smith [Palavras de Joseph Smith], 371).
[8] Veja Ronald K. Esplin, “Joseph Smith’s Mission and Timetable: ‘God Will Protect Me until My Work Is Done [A Missão e Cronograma de Joseph Smith: Deus me Protegerá até que meu Trabalho seja Completo],’” em The Prophet Joseph: Essays on the Life and Mission of Joseph Smith [O Profeta Joseph: Ensaios sobre a Vida e Missão de Joseph Smith], redação de Larry C. Porter e Susan Easton Black (Salt Lake City: Deseret Book, 1988), 280–319.
[9] Words of Joseph Smith [Palavras de Joseph Smith], 116.
[10] Veja Richard Lloyd Anderson, “Joseph Smith’s Prophecies of Martyrdom [As Profecias de Joseph Smith sobre o Martírio],” em The Eighth Annual Sidney B. Sperry Symposium: A Sesquicentennial Look at Church History (Brigham Young University, Provo, UT, January 26, 1980), 1–14.
[11] Dallin H. Oaks, “Joseph Smith in a Personal World [Joseph Smith num Mundo Pessoal[,” em The Worlds of Joseph Smith: A Bicentennial Conference at the Library of Congress (Provo, UT: Brigham Young University Press, 2006), 159.
[12] James Hanney, em Household Words: A Weekly Journal [Palavras Caseiras: uma Revista Semanal] 3 (1851): 385.
[13] Deseret News, 26 de outubro de 1859, 266.
[14] Richard Neitzel Holzapfel, “The ‘Hidden’ Messiah [O Messias Oculto],” em A Witness of Jesus Christ: The 1989 Sperry Symposium on the Old Testament (Salt Lake City: Deseret Book, 1990), 81.
[15] Citado em Joseph Fielding Smith, Church History and Modern Revelation [História da Igreja e Revelação Moderna] (Salt Lake City: The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, 1953), 1:4; veja também Richard Lloyd Anderson, Joseph Smith’s New England Heritage [Joseph Smith: Sua Herança da Nova Inglaterra] (Salt Lake City: Deseret Book, 1971), 112.
[16] Joseph Smith, History of the Church of Jesus Christ of Latterday Saints [História da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias] redação de B. H. Roberts, 2nd ed. rev. (Salt Lake City: Deseret Book, 1957), 2:443.
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