Fonte:Texto inspirado em diversas citações e alguns retirados do History of the Church e escritos antigos da época do profeta Joseph Smith.
Que tipo de
selamento era a adoção? Como essa doutrina fazia parte do pensamento de Joseph
Smith? Que implicâncias ela tinha na redenção dos mortos e organização do povo
do convênio? Este
post introduz o desconhecido tema da adoção.
Foi na
cidade de Nauvoo, durante a década de 1840, que as ordenanças do templo
atingiram uma maior elaboração,juntamente
com as doutrinas que expressavam, incluindo os primeiros selamentos e a
totalidade da investidura. Num distanciamento cada vez maior do cristianismo
tradicional, a estrutura apostólica da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos
Últimos Dias via florescer uma estrutura patriarcal, com novos ensinamentos que
incluíam a progressão eterna do ser humano, a origem de Deus como um homem
mortal, a pluralidade de deuses ao longo das eternidades e a possibilidade do
estabelecimento de unidades familiares que sobreviveriam à morte.
Joseph Smith
pretendia estabelecer uma sociedade baseada em princípios divinos que
englobassem cada aspecto da vida humana: no plano econômico, a lei da
consagração e a Ordem Unida; no plano político, o estabelecimento do Conselho
dos 50; e no plano social, o estabelecimento de uma unidade familiar de grandes
proporções, pelos princípios do casamento celestial e da lei da adoção. A
adoção, como princípio doutrinário e uma ordenança do templo, talvez seja um
dos aspectos mais desconhecidos sobre o passado mórmon. Para a implementação
completa desses princípios, Joseph Smith estabeleceu outra estrutura,
independente da Igreja sud: o Quórum dos Ungidos. Antes da lei da adoção estar
disponível para a maioria dos membros, ela foi introduzida ao grupo formado por
cerca de trinta pessoas em Nauvoo, o Quórum dos Ungidos, também conhecido como
Ordem Sagrada, para quem o profeta administrou as primeiras versões da
investidura e dos círculos de oração.
Até 1894, os santos dos últimos dias foram
ensinados sobre a lei da adoção, de acordo com a qual dois homens podiam ser
selados como pai e filho dentro do novo e eterno convênio. Os selamentos entre
as gerações, unindo pais e filhos, não deveriam necessariamente seguir a ordem
genealógica ou biológica de uma família. Os santos poderiam ser unidos em uma
única e grande família, tendo Joseph Smith como seu elo comum. A lei da adoção
influenciava a vida familiar daqueles que
a viviam em aspectos práticos e expressava a natureza fortemente patriarcal com
que a liderança mórmon então começava a conceber o evangelho. Além disso, dava
à doutrina de redenção dos mortos uma natureza distinta da que esta possui hoje
em dia na Igreja sud.
Nesta
primeira parte , tentarei mostrar o fundamento doutrinário da lei da
adoção, algumas evidências de sua prática e a importância que teve na história
mórmon. A adoção dos antepassados como posteridade dentro da obra vicária e a
interrupção da prática durante a presidência de Wilford Woodruff serão
analisadas na segunda parte.
Reino
Familiar
Ao lado do
casamento celestial plural, a lei da adoção era um princípio fundamental na
visão de Joseph Smith para a construção do Reino de Deus sobre a terra. Este
foi um ensinamento que Joseph transmitiu aos seus amigos mais próximos durante
seus últimos anos de vida. Segundo Juanita Brooks,
A “Lei da
Adoção” surgiu do conceito de “reinos, principados e poderes” nos “Mundos
Celestiais”. Joseph Smith teve selados a si alguns de seus mais fiéis
seguidores (…) para ajudar a estabelecer o Reino de Deus sobre esta terra e
partilhar de sua exaltação no porvir. (On
the Mormon frontier, the diary of Hosea Stout. University of Utah Press, 1964,
p. 178, n. 50)
No momento
em que um homem não tivesse um pai digno portando o sacerdócio, ele poderia ser
selado a outro, sendo que todos os selamentos nesta dispensação deveriam
eventualmente ligar cada família numa única, tendo Joseph Smith como um
patriarca comum e, através dele, ligar cada indivíduo ao Pai da raça humana,
Adão.
A lei da adoção, entre outros elementos, prepararia os alicerces de um governo patriarcal e teocrático sobre a terra, o qual constituiria o próprio Reino de Deus profetizado nas escrituras e do qual Joseph se considerava um dos construtores:
A lei da adoção, entre outros elementos, prepararia os alicerces de um governo patriarcal e teocrático sobre a terra, o qual constituiria o próprio Reino de Deus profetizado nas escrituras e do qual Joseph se considerava um dos construtores:
Acredito ser
um dos agentes no estabelecimento do reino visto por Daniel, através da palavra
do Senhor, e é minha intenção estabelecer um alicerce que revolucionará o mundo
inteiro. (Ensinamentos do profeta Joseph Smith, p.357)
Note-se que
a Igreja de Jesus Cristo havia sido organizada em 1830, mas na citação acima,
em maio de 1844, Joseph Smith fala do estabelecimento do Reino de Deus
utilizando uma perspectiva futura. Joseph referia-se a uma organização
distinta, para a qual era necessário restaurar os antigos princípios
patriarcais. O Reino de Deus, para Joseph, não teria apenas um domínio
eclesiástico, mas também social e político.
Além da
geração natural, biológica, de filhos dentro do convênio, o princípio da adoção
também poderia trazer a um homem uma posteridade eterna, com homens dispostos a
ingressarem em sua família como filhos.
Em 1873,
Thomas B. H. Stenhouse explicava a lei da adoção nos seguintes termos:
Esta lei da
adoção pressupunha que Joseph Smith havia sido escolhido e ordenado antes da
criação do mundo para ser o cabeça e governante da “Última Dispensação”. Adão,
Noé, Abraão, Moisés, Elias e Jesus tiveram cada um seu lugar na história do
mundo como grandes homens a quem dispensações especiais haviam sido conferidas;
mas a Joseph foi dada a “Dispensação da plenitude dos tempos”, a qual, ao
harmonizar a obra dos profetas e apóstolos de todas as eras, deveria ser o
coroamento da obra dos céus acima e da terra abaixo.
A declaração
“nenhum homem vem ao pai senão por mim” era aplicada pelos apóstolos modernos a
Joseph Smith, e agora a Brigham Young, e se ele tivesse mil sucessores seria
igualmente aplicável a todos eles. (…)
Os apóstolos
encontraram-se com os quóruns do sacerdócio e os ensinaram-lhes que “o reino”
havia sido dado a Joseph, e que era necessário, para obter a salvação, que
todos os santos fossem selados uns aos outros e finalmente a ele. (The Rocky
Mountain Saints, p. 495-506)
Em seu
relato, Stenhouse enfatiza o papel dos apóstolos na lei de adoção.
Provavelmente, ele reflete o entendimento que muitos membros das Igreja tiveram
da lei da adoção, quando o status passou a ser um critério importante. A
adoção, no entanto, não dependia do ofício ocupado na Igreja sud e, como
veremos na segunda parte, todo aquele que realizasse a salvação de seus
antepassados mortos tinha que adotá-los como posteridades.
Para Joseph
Smith, sem ser selado a um pai, o indivíduo colocaria em risco sua
possibilidade de exaltação, uma vez que a única estrutura existente no mais
alto grau do reino celestial seria familiar. Na mortalidade e na eternidade,
esse pai – natural ou adotivo – seria seu superior na hierarquia do sacerdócio,
a quem o filho deveria honrar eternamente. Foi provavelmente com tal noção
em mente que o apóstolo Orson Hyde representou graficamente o Reino à semelhança de uma árvore genealógica.
O Pai eterno
senta-se à cabeça, coroado Rei dos reis e Senhor dos senhores. Onde quer que as
outras linhas se encontrem, senta-se um rei e sacerdote para Deus (…). Ele é um
com o Pai, pois seu reino é somado ao de seu Pai (…). Tais reinos, que são um
reino, são destinados a estender-se até não somente compreender este mundo, mas
cada outro planeta que gira no firmamento azul do céu. (A Diagram of the Kingdom of God, Millenial Star, 09, 15 de
janeiro de 1847, p. 23-24)
A exaltação,
portanto, requeria a inclusão do indivíduo nesse reino familiar, para que fosse
considerado um “herdeiro legal”. De outra forma, a jornada rumo ao mais alto
céu do reino celestial não seria completa:
Uma coisa é
ver o reino de Deus e outra é entrar nele. Devemos ter uma mudança de coração
para ver o reino de Deus e aceitar as regras de adoção para entrar nele.
(Joseph Smith, History of the Church
6:58; Teachings of the prophet Joseph Smith, p. 328; ênfase nossa.)
E para que
isto acontecesse, como o cabeça da sétima dispensação, Joseph Smith seria o elo
entre o próprio Deus e Seus filhos nesta terra, ligando dessa forma os dois
lados do véu em uma única organização familiar.
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